Uma doença que nos esgota a energia!

   Nunca sei bem como iniciar este tema porque é algo que mexe comigo de determinada forma, há um misto de tristeza com saudade, angústia e um certo desespero com uma pitada de raiva. Tenho 25 anos, tomem nota e no final deste texto tentem recordar esse facto. Sei que muitos de vós vão ler este desabafo e vão ficar com a sensação de que se estão a ver ao espelho, para outros que nunca entenderam e questionaram o "como é que é possível" espero que agora consigam perceber que nem tudo é preguiça. Sempre fui ativa, muito ativa principalmente no que toca ao trabalho, iniciei a minha vida laboral aos 15 anos e cheguei a acumular 3 trabalhos em simultâneo, todos eles duros e extremamente cansativos. Vivia da adrenalina. Dormia 2 horas por noite e acordava pronta para mais uma maratona e se pudesse abdicar dessas 2 horas de sono nem hesitava. Queria mais e mais. Nunca tive férias ao longo de 5 anos mais coisa menos coisa, trabalhava de Segunda a Domingo. Era tão feliz! O meu ritmo era alucinante e nem eu sei muito bem como aguentava tudo o que isso implicava mas na altura achava que todos o faziam, julguei me imortal. Tinha a vida toda à minha espera. Era saudável ou pelo menos julgava eu, não me queixava, não tinha tempo de ir ao médico e muito menos tempo para adoecer, sentia me bem, feliz, realizada mas nunca satisfeita. 
   A verdade é que fui obrigada a arranjar tempo. Descobri ser portadora de uma Doença… crónica, auto imune e para toda a vida. E posso dizer que durante toda a doença, durante 5 anos, não houve crises, não houve dores, não houve nada que me tivesse doído e destruído tanto quanto o ser obrigada a deixar de trabalhar. Falo nisto muitas vezes. De todo o meu histórico de doente essa foi a minha pior doença. O cansaço entrou na minha vida com a mesma rapidez com que me senti inútil. Logo eu que não podia estar parada um segundo. Logo eu que era aquela máquina a todo o vapor. A máquina foi parando sem sequer ter uma palavra a dizer. O cansaço era extremo, o sono estava presente dia e noite, ali em braço de ferro comigo. Dormia mais de 15horas seguidas, acordava, voltava me para o lado e voltava a dormir mais 15horas. Na altura e ainda sem saber que tinha esta doença, dormi dia e noite, dia e noite durante uma a duas semanas, na altura a minha querida avó ainda era viva e ficou muito preocupada ao ponto de me querer levar ao médico. Quanto a mim não sabia se era dia, se era cedo, se era tarde, se era noite...Não sabia porque passava por todas as fases do dia a dormir. Acordava unicamente para fazer xixi e para beber o chá que ela me deixava na cabeceira. Voltava a dormir de novo.
Foi uma fase e passou…
   Quando a doença foi diagnosticada já andava mais cansada que o que é considerado normal apesar de para mim não ser estranho, afinal estava a estudar e a trabalhar em simultâneo. Quem não fica cansado? Mais uma vez eu não tinha tempo para descansar, para pensar ou para ir ao médico. Todos nos sentimos cansados e eu não era exceção. 
A verdade é que o cansaço começou a ser demasiado, os sonos já não eram iguais e se há pessoa que sabe o que é dormir sou eu. Estou sempre pronta. A doença foi evoluindo e como é lógico os dias e as noites nunca mais foram iguais, passava noites acordada, dormir na casa de banho, cochilava aqueles 5 minutos até me dar novamente vontade de correr para a casa de banho, metia me na banheira noites e noites a fio depois de não chegar a tempo a uma sanita… tudo isso me desgastou a um nível absurdo e o cansaço mais uma vez era algo alucinante. 
   Cheguei ao ponto de estar tão cansada que quando ia à rua e via as pessoas na sua rotina a andarem leves, soltas, a um ritmo mais acelerado dava por mim a pensar "como é que elas conseguem?" eu dava 3 passos e só me queria sentar. Comecei a sentir me incapaz. Fraca. Inútil. Aquela não era eu...jamais! Onde estava a minha vitalidade? Onde estava eu a fazer maratonas? Onde estava a minha energia? Não estava. Na altura ainda estava a trabalhar e a maior parte dos dias ia de rastos literalmente. Ninguém entendia, ninguém queria saber… afinal era tudo preguiça aos olhos deles. 
Finalmente tive férias…As minhas primeiras férias (as baixas médicas também contam certo?) e depois dessas férias voltei novamente a entrar de férias durante 7 meses num Resort de Luxo chamado Hospital Garcia de Orta, não era o meu local de sonho nem a viagem a Bora Bora que desejo tanto fazer mas pelo menos descansei… talvez tempo demais. Achei que após todo o processo que recuperaria a minha vitalidade e a minha energia. Estava pronta para entrar em mais 3 ou 4 trabalhos. Só que não. Hoje e enquanto escrevo este post para vocês, as lágrimas correm-me o rosto. Também me acontece. Estou exausta! Desanimada, cansada e sem energia absolutamente nenhuma.
   Como é possível? É certo que trabalho 15 horas por dia de segunda a domingo mas o facto de dormir cerca de 6/7horas por noite e acordar como se não tivesse ido à cama… é desesperante. Dei por mim a adormecer ao volante, dei por mim ao longo do dia a fechar os olhos sem dar conta. E custa! É ver a nossa vida a entrar numa decadência que não faz de todo parte de nós. É ver o meu rosto a envelhecer de uma forma assustadora. As noites continuam a não ser bem dormidas e quando o milagre se dá… adivinhem: acordo igualmente exausta. E quando eu falo em exaustão, essa exaustão que a maioria não entende, falo de algo maior que eu, que toma por completo e que suga toda a minha vitalidade e energia. É assustador. É facto que me sentir assim faz com que desmotive, com que a minha imaginação não flua, as minhas metas pareçam inalcançáveis e tudo estagna porque não tenho força para mais. Quero fazer tanta coisa, tenho tanto à minha espera e o meu corpo não colabora e não há doença maior que querermos andar e não conseguirmos. 
   No final lembro-me que tenho apenas e repito apenas 25 anos… como será daqui para a frente? 

Comentários

  1. Ola Andreia já a tempo que não trocamos uns hieróglifos, LOL. Então sei que não é facil, mas considero te uma mulher forte e uma guerreira de armas. Olha eu apesar dos meus quase 55 anos, sinto na pele desde que me apareceu em 2016 a doença que as forças já nao são as mesmas e como te disse foi penoso para mim, como agente de autoridade ter deixado a rua, pois as forças já nao são as mesmas. Como tu disses te no programa da Cristina, um dia de cada vez , tem que ser mesmo assim. Andreia .... faz me o favor de ser imensamente feliz, e como diria um homem que conheci na vertical... " Ninguem disse que a vida seria fácil, Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento. Agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer ( António feio ) Beijos e quem sabe um dia te conheço na vertical ;)

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