Um Natal no bloco operatório

   E se o vosso Natal fosse passado num bloco operatório? 

   No ano passado (2017) o meu Natal, bem como todas as épocas festivas foi passado no Hospital, até aí não se pode fazer nada, mas quando me disseram que ia ser passado no Bloco Operatório...a minha perspetiva mudou! A verdade é que infelizmente já parece tradição alguém da família passar o Natal num quarto de Hospital e por consequência a família vai atrás. Gostamos de ser originais… 

Tinham tantos dias para me levar... não podiam apenas deixar-me comer coisas boas e ir lá para dia 26? Chorei...ó se chorei com 4 enfermeiros ao meu lado, tinha fome, muita fome! 

   -48Horas sem comer 

   -Era Natal

   -Queria coisas boas 

   -Tinha combinado passar o Natal com os enfermeiros em toda uma party natalícia

Mas não… fizeram-me esperar até à 00h de dia 24 para ir ao bloco… o que é que isso significava? Que não iria aproveitar absolutamente nada do Natal visto que no dia 25 iria estar a recuperar e possivelmente a vomitar a anestesia (que booommmm) ! 

   Lá tiveram os enfermeiros que me aturar a chorar baba e ranho, a ouvirem a minha revolta e ao mesmo tempo a darem me colo com os seus presentes maravilhosos! Fosse qual fosse a altura o aconchego deles nunca me faltou! 

 Era um quarto para a meia noite quando desci para o bloco…e acreditem ou não a única coisa que eu dizia era 'Posso comer quando acordar? Estou cheia de fome, espero que tenham um bitoque à minha espera quando abrir os olhos, é o mínimo!' - sabia que não podia mas pensei que por ser Natal iriam realizar o meu desejo! Entrei no bloco com cara trancada…e 

tudo o que aquela sala de operações tinha de semelhante com o Natal era o gelo que lá se sentia e que possivelmente não está longe do que se sente no polo Norte. Não vou comentar a alegria de todas as auxiliares bem como enfermeiras com as suas 'tocas' cheias de motivos natalícios, confesso que quase me senti na pediatria o que não foi mau de todo. Se não for assim bem que todas as equipas passam mal visto estarem também elas longe dos seus. É difícil para todos. Nem eu estava contente por estar naquela marquesa, nem eles que tinham de lá estar...ainda assim posso vos dizer que a alegria que eles me transmitiram foi tão convincente que quase me faziam acreditar que foram eles a trocar o turno de propósito para não irem para casa! 

   Estava fula da vida e com as lágrimas a correr pela cara enquanto esperava pelo anestesista a minha médica sentou-se ao meu lado, pediu me desculpa e em modo gato das botas disse-me: 

"Vai correr tudo bem, queres que te cante uma música de Natal?" 

Pois é... Tive a honra de ter a minha médica a cantar Mariah Carey até eu adormecer e acreditem ou não a anestesia até pegou melhor e mais rápido! Não é todos os dias que me fazem uma serenata assim! 

   Não sei a que horas voltei para o quarto porque estava mais concentrada em vomitar a anestesia e a tentar dormir ao mesmo tempo. 

   No dia 25 tinha a minha mesa de cabeceira recheada de pratos de plástico com coisas das boas para comer mas o enjoo era tal que só lá para o final do dia é que fui petiscando o que os enfermeiros e auxiliares me iam trazendo. 

Mais um Natal diferente mas em que passei com a minha outra família de coração, senti me o menino Jesus nos braços de todos eles! A quem muito tenho a agradecer...sempre! 

    Nem tudo é mau malta, tive prendas, tive luzes de Natal na janela do quarto, tive mimos, tive quem me limpasse as lágrimas e tive muito amor em meu redor. Do puro! 

A todos desejo um quentinho Natal em casa de preferência no aconchego dos vossos mais queridos!