Quando nem o céu é o limite

   Começo da melhor forma: não sei como iniciar este post. Tenho em mim demasiadas sensações para conseguir transpor para o 'papel', estou eufórica tal como uma criança na noite de Natal, também eu recebi um grande presente, também eu realizei um sonho e isso deixa-me insuportavelmente feliz. Sabem aqueles dias em que o sorriso não nos sai do rosto e acabamos por ficar com aquele ar meio parvo porque não paramos de sorrir inconscientemente? Estou assim faz 17 dias. E sabem quando vocês compram aquela prenda especial e ficam mortinhos para a oferecer mas têm de se conter ao máximo para não se descaírem porque ainda não é a altura de o entregar? Caraças...custa ou não custa? É assim que tenho andado nos últimos 17 dias, com uma tremenda vontade de vos mostrar, de vos contar e de partilhar com vocês um dos momentos mais bonitos da minha vida!

   

   Era algo que jamais e em tempo algum me tinha passado pela ideia e olhem que ideias não me faltam, era algo que sempre esteve fora dos meus planos e que jamais o faria por diversos motivos. Estar hospitalizada 7 meses para além de me fazer crescer também me transformou, tirou-me qualquer medo que pudesse existir e deixou me destemida. Nem tudo é negativo. Esta doença já me fez refém muitas vezes, tirou-me a esperança noutras e tentou arrancar-me os sonhos, deixou-me presa na minha própria casa e só quem o vive sabe o quanto é difícil querermos andar e o corpo não responder, queremos ter alguma percentagem de energia e esta ser inexistente. Dói muito. 

   Quando sai do hospital fez-se um click, para além de aprender a dar valor aos meus dias e de começar a agradecer diariamente tomei a decisão de que se estou viva é para aproveitar ao máximo, não é todos os dias que o Universo nos dá outra oportunidade mas nada disso serve se não mudarmos a vida de alguém, se não deixarmos a nossa marca na Terra. Não viemos ao mundo para sermos só mais um número, viemos ao mundo para fazermos a diferença. Estar viva é uma bênção e eu quis agradecer. 

   Já coloquei tanta vez à prova os meus limites involuntariamente que desta vez quis ir mais longe, mais alto também! 

Não quero aceitar quando me dizem que uma pessoa ostomizada não pode fazer isto ou aquilo. Não pode porquê? Por ter um saco? Claro que há exceções mas eu mostro-vos…lá fui eu, teimosa que doí provar e mostrar que ainda que seja ostomizada jamais arrancam de mim os sonhos e as vontades. Fui até Évora e lá esperava-me uma equipa absolutamente MARAVILHOSA para realizarem o meu novo sonho, a família Skydive, sim fui fazer um Salto Tandem Jump a 4200 metros, fui a primeira Ostomizada em Portugal a fazer um salto de paraquedas (que se conheça claro). Tudo é possível e é isso que vos quero transmitir. Calma...não fui assim à maluqueira, tive ordem médica para tal e também alertei a Skydive que era ostomizada. Agora vem a peripécia: toda eu numa excitação extrema, super calma por fora e com a tranquilidade estampada no meu rosto chega o meu instrutor e diz-me "Eu não vou fazer o salto contigo, ninguém me avisou que tinhas um saco, nunca fiz um salto assim, não vou arriscar" esperem esperem… o quê? Ai vai vai amiguinho, está tudo controladíssimo. Eu explico "pode ficar descansado (levantei a camisola) isto não salta, não descola com facilidade, está tudo controlado" ao qual ele me pergunta o que é que de pior podia acontecer? "A única coisa má que pode acontecer é o saco abrir por alguma razão ou rebentar e eu sujar me toda".

Fez uma cara de pouco convencido mas disse "bem...vamos lá" e assim foi. Com todos os cuidados, saco vazio e adrenalina no auge lá fomos nós fazer o nosso super salto. 

O vídeo está disponível aqui! 

Digo-vos que todos vocês deveriam passar pela experiência, a sensação de liberdade, a sensação de que nem o céu é o nosso limite, a sensação de não ter os pés no chão é indescritível. Lá em cima agradeci muitooo e foi também lá em cima que tive ainda mais certezas de que vale cada segundo estarmos vivos! A vida é algo de extraordinário se conseguirmos tirar dela o melhor e o mais bonito. 

ATENÇÃO: NÃO FAÇAM NADA SEM CONSULTAR PRIMEIRAMENTE O MÉDICO E O VOSSO ENFERMEIRO ESTOMATERAPEUTA. Há sempre coisas que nos podem transcender. 

Sejam felizes!!