Após tomar a decisão de ser operada e pedir o divórcio da doença...iniciamos a burocracia.
Reuniões com o cirurgião, exames, análises...tudo para que fosse o mais breve possível. Devido ao estado em que já tinha o intestino, houve a necessidade de existir urgência na marcação da operação. O plano era e fixem bem: Retirava o intestino que estava mau e colocava uma bolsa interior que uniria o intestino ponta a ponta de nome bolsa ilear que seria o reservatório. E pronto....ficava resolvido segundo o médico. Havia uma percentagem alta de a bolsa infetar mas não íamos pensar nisso.
Disse de imediato ao cirurgião: "Doutor eu quero é ficar bem, e quando me abrir se vir que esse plano não funciona, coloque logo o saco, fique à vontade para fazer o que achar melhor" - Disseram-me que ele era o melhor, mas não me disseram que era surdo!
Saber que ia acabar o tormento, as corridas para a casa de banho de minuto a minuto *literalmente*, isso deixava me tranquila e esperançosa.
O normal de idas à casa de banho para quem é portador tanto de Crohn como de CU é de mais ou menos 4/5 vezes dia se estiverem estáveis. No meu caso eu estava a ir entre 25 a 30 vezes por dia com diarreias e perdas de sangue, quando não era mais que isso. Estava com um desgaste enorme, quer físico como psicológico. Esse tormento estava prestes a terminar e isso deu me um último empurrão para aguentar mais um pouco.
Dei entrada no dia 12 de Julho pelas 19.00h para no dia seguinte fazer a operação que iria mudar a minha vida para melhor *julgava eu*...fui para o hospital com um espirito de 'bora lá dar cabo dela´ e fui com pensamentos positivos e muito muito tranquila, pelo menos é essa a ideia que tenho, mas não deixei de me agarrar ao namorado a chorar que nem uma madalena arrependida, mariquices. Tenho memória que a primeira coisa que disse antes de entrar para o bloco foi 'Pela vossa saúde façam isso bem, porque eu quero ir trabalhar daqui a uns dias' e só me lembro de me dizerem depois 'Andreia? Já foi operada, correu tudo bem, tem dores?' e pensei 'estou viva, boa!', não me perguntem se tive dores ou não porque não me lembro, calculo que sim visto ter sido uma operação de 6/7 horas e aberta de uma pontinha à outra e mais houvesse. Que lindo, viram o mais importante: o meu interior todinho. Mas não era para estragar!
Uns dias mais tarde no meu aniversário 19 de Julho dou entrada no bloco operatório de urgência e foi mais uma jornada de 6/7 horas... quando supostamente no dia anterior estava tudo ótimo, a correr lindamente segundo o médico, até eu fazer febres de 42/43 e um enfermeiro *o meu anjo dos descobrimentos* ver que algo não estava famoso...tinha uma hemorragia interna e lá fui eu para a sala fria de novo, quase a sentir me famosa com tanta gente em redor de mim nos meus 24 anos, só faltou cantarem os parabéns e tínhamos o baile armado.
Ainda não tinha recuperado da primeira, já estava na segunda e também não deu para aquecer. Dia 25 de Julho vou novamente ao bloco e mais 5h de operação, não estou recordada da razão, mas houve uma complicação qualquer, e nesse dia sim estava desesperada e carregada de medo. O meu namorado decidiu com a minha mãe que aquela ia ser a última operação, e tomamos a decisão de colocar o saco definitivo *a ideia inicial que eu tinha e em que o médico esteve sempre à vontade para colocar e não colocou*, não entrei no bloco sem falar com o cirurgião e lembro me de estar na maca, ele chegar e as lágrimas caírem me fio a fio 'Não aguento mais, não vou aguentar mais operação nenhuma, não quero tentar mais nada, quero que me coloque o saco de uma vez por todas' a cara dele mostrou tudo menos satisfação.
Coincidências à parte, acordei entubada após ter tido uma paragem a nível respiratório pelo meio dessas 5 horas, e nesse momento soube que tinha tido a minha segunda oportunidade - ou então uma segunda de muitas que se proporcionaram a seguir...
P.S: Não se esqueçam de acreditar!
Querida Andreia... Adorei! A começar pelo título (ideia corajosa, essa de decidires divorciar-te da doença, tanto literal como emocionalmente... principalmente emocionalmente!), passando pelo conteúdo, claro, e até pelo tipo de letra... Não sou grande especialista em blogues (nada, mesmo!) e, por isso mesmo, a minha percepção é despretensiosa e mais visceral :) Parabéns. Se dúvidas houvesse, mostras aqui que és uma verdadeira MAO - Miúda à Obra!!
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